A alimentação é um dos aspectos
mais importantes a ter em conta. “Nós somos aquilo que comemos” , assim reza o provérbio e em parte é bem verdade,
pois a alimentação, ainda que de forma indirecta, influencia enormemente o estado de saúde de todos os seres vivos. No que
toca a aves, existem inúmeras espécies e no caso particular dos canários existem já muitas raças. Todas estas diferenças de
aspecto não só somente superficiais e o facto de se tratar de uma raça de canários pequena, muito ou pouco activa, faz com
que as necessidades nos respectivos nutrientes variem. Por exemplo, uma raça grande precisará à partida de consumir maior
quantidade de proteína, uma vez que existe um maior volume a preencher no que toca a penas, músculos, uma vez que um dos papeis
das proteínas é esse mesmo, o da construção de tecidos (muscular, a própria pele, as penas etc) O tamanho irá também interferir
no consumo dos restantes nutrientes, à partida uma raça maior necessita de uma maior quantidade de nutrientes, pela simples
razão de ter maior massa corporal, contudo questões metabólicas e o facto de existirem espécies pouco ou muito activas fará
com que os gastos energéticos e o consumo de minerais, vitaminas etc não variem
de forma tão linear, de tal modo que existirão determinadas particularidades e um canário pequeno poderá necessitar de uma
maior quantidade de determinados nutrientes. À partida, maior massa corporal implica necessidade de maior consumo de grande
parte dos nutrientes, mas existem algumas excepções, as quais teremos que conhecer, no que respeita à raça que criamos.
De uma forma geral, podemos fornecer dois tipos de alimentação aos nossos canários: 1- baseada em sementes,
na qual a alpista possui uma percentagem dominante, havendo criadores que unicamente a fornecem e outros que a fornecem misturada com outras sementes como o níger, a papoila, a couve, colza, linhaça etc Praticamente
todas estas sementes têm uma enorme percentagem de gorduras e têm que ser consumidas de forma moderada e esse é um dos motivos porque são adicionadas à alpista em
pequenas percentagens e também o motivo porque muitos criadores apenas usam alpista. É importantíssimo que as sementes sejam
frescas e limpas, senão estaremos a bombardear os nossos pássaros com fungos, bactérias e poeiras que podem prejudicar gravemente
os nossos pássaros, podendo inclusive levar à morte, a longo prazo. Obviamente que uma alimentação em sementes é pobre, existe
uma enorme carência a nível vitamínico, mineral e proteico, por isso temos que complementar essas carências através do fornecimento
de papas, suplementos vitamínicos e minerais e verduras e frutas. Há quem opte por uma alimentação mais “natural”
fornecendo apenas uma papa e adicionando a essa papa produtos importantes, tais como a levedura de cerveja, a soja, o gérmen
de trigo, entre outros e fornecendo também verduras e fruta. Outros criadores, por questões praticas entre outras, optam por
fornecer uma papa, ou duas papas misturadas entre si e suplementam essas papas com variadíssimos suplementos que podem ser
naturais ou sintéticos, optando por não fornecer verduras ou fruta. Independentemente de fornecermos verduras e fruta ou não,
o mais importante é que estejamos realmente a fornecer uma alimentação equilibrada e que não hajam carências nutricionais,
nem forneçamos nutrientes em excesso, pois quer o défice, quer o excesso acarreta graves problemas à saúde da ave e como tal
temos que procurar o equilíbrio; se esse equilíbrio é conseguido à base de uma alimentação naturalíssima e sem suplementos,
tanto melhor, mas alerto que será difícil. Chamando também a atenção para o uso de probióticos e prebióticos, dos quais falarei
mais adiante e que são de grande importância na manutenção do bem-estar e saúde das aves.
2- Uma alternativa ao uso
de sementes, consiste no uso de extrudidos, que possuem um conjunto de vantagens e desvantagens e das quais falarei de seguida.
Existe também a hipótese de se conciliarem os dois métodos e de se fornecerem sementes e granulado em simultâneo, eu pessoalmente
acho que não se devem privar os pássaros das sementes, especialmente pelo facto de que ao vendermos os nossos pássaros ou
aquando da participação em exposições, eles têm que estar preparados para consumir sementes, pois à partida será o alimento
fornecido, daí que ache que um pássaro deve estar preparado para consumir sementes se tal for necessário. No caso de optarem
por uma alimentação baseada em extrudido, devem então fornecer sementes, nas doses que acharem mais correctas, as quais não
irei referir, pois dependem de uma série de factores, no que respeita à variedade e doses se alimentos que cada criador fornecerá.
Sementes:
Das sementes usadas para canários, há que destacar a alpista que pode ser fornecida sem restrições; todas as
restantes, têm que ser fornecidas de forma doseada, pois são exageradamente ricas em óleos ou gorduras, dentro desse grupo
temos sementes ricas em ómegas 3 e 6, com excelentes efeitos terapêuticos. As sementes que possuem extracto etéreo são especialmente
úteis na muda, contudo volto a frisar que será necessário saber doseá-las. Por último gostaria de destacar o papel da perilla
e do fónio, os quais têm propriedades comprovadas a nível de promoção da saúde das aves, na prevenção e resolução de problemas
digestivos, entre outros.
Alpiste
(Phalaris canariensis)
Semente rica em hidratos de carbono. O termo inglês "canaryseed" dá-nos uma ideia da sua
importância na alimentação dos canários, contudo é também utilizada em muitas outras misturas para aves.
Aveia
descascada (Avena sativa)
Possui
excelente digestibilidade e costuma ser muito apreciada. É rica em hidratos de carbono (75% a 80% do peso seco) é uma boa
semente para fornecer a pássaros com crias, pela sua digestibilidade e teor proteico (12,4 a 24,50%), contudo em quantidades
elevadas engordará em demasia os canários, por isso há que saber dosear o seu uso. A percentagem de gorduras varia entre 3,10
e 10,9%, com predominância para os ácidos graxos insaturados.
Semente de couve e nabiça:
São sementes muito ricas em gorduras, normalmente são apreciadas, mas tem que ser usadas em quantidades moderadas,
devido ao seu alto teor em gorduras.
Colza (Brassica rapa)
Rica em proteína e óleos ( extracto etéreo) ,tem um sabor ligeiramente amargo.
É uma semente importante, pois o seu elevado teor de extrato etéreo contribui para a saúde. Também é benéfico para o canto
dos canários, mas em demasia os canários ficaram obesos e consequentemente poderão ter problemas de saúde.
Níger (Guizotia abyssinica)
É uma semente muito apreciada e é também rica em extracto etéreo e proteínas. Há também que dosear o seu
uso, para evitar que os canários engordem.
Linhaça
(Linum usitatissimum)
É a semente do linho. É rica em proteínas e extracto etéreo, em particular Omega 3, o qual é essencial para
uma excelente plumagem. É também importante para evitar problemas cardiovasculares. Melhora a passagem dos alimentos, ao longo
do aparelho digestivo, facilitando a digestão.
Perilla
branca e perilla café (Perilla
frutescens)
Semente rica em extracto etéreo, em especial do grupo Omega 3 e Omega 6. Interfere de forma muito positiva,
na plumagem e no canto.
Cânhamo (Cannabis sativa)
É o grão da planta Cannabis
sativa, mas sem toxinas. É rico em extrato etéreo e proteínas. Possui THC, que aumenta o interesse sexual. Contudo o seu uso
deve ser regrado e muito bem doseado, para que os níveis de excitação não sejam nocivos para os pássaros; há também que ter
cuidado com problemas de obesidade.
Perilla
branco e perilla café (Perilla
frutescens)
Grão rico em extracto etéreo, em especial do grupo Omega 3 e Omega 6. Interfere de forma muito positiva,
na plumagem e no canto.
Fónio
É
uma semente originária do uganda e é usada como prebiótico, ajuda a prevenir e a resolver problemas digestivos, essencialmente.
Semente |
Proteínas (%) |
Glícidos (%) |
Gordura (%) |
Fibras (%) |
Cânhamo |
15 a 20 |
15 a 20 |
30 |
16 |
Alpista |
13,6 |
65 |
5,2 |
7,4 |
Aveia |
10 |
60 |
5 |
11 |
Linhaça |
19 |
20 |
35 |
5,5 |
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Extrudido:
Alimentar com sementes exige por parte do criador, um acompanhamento, se
possível, diário das aves e para quem não tenha essa disponibilidade ou esteja a começar, a utilização de sementes poderá
não se revelar tão trivial como aparentemente possamos pensar:
- existem pássaros que escolhem as sementes
que mais apreciam, que por norma são as mais gordurosas, o que faz com que essas aves fiquem obesas e com carências nos outros
nutrientes.
- as vitaminas presentes nas sementes, degradam-se muito facilmente, quando
armazenadas. A vitamina A, por exemplo, desaparece muito rapidamente.
- O teor de nutrientes, varia consoante
o local onde as sementes são cultivadas e como tal ao fornecermos sementes provenientes de um determinado local, não estaremos
a fornecer exactamente as mesmas percentagens de nutrientes e minerais, se essas sementes tiverem origem num outro local.
- as sementes praticamente não contém cálcio e tem teores bastante baixos
dos outros
minerais necessários.
-a administração de suplementos
vitaminicos em excesso, não é nada benéfica para a sáude da ave e provoca problemas a nivel dos rins, abdómen etc
- administrando papas em quantidades excessivas, estaremos a fornecer uma alimentação demasiado rica em proteínas.
Concluindo, para quem se esteja a iniciar neste hobbie, a utilização de
extrudido, é uma alternativa simples e sem riscos de garantirem que as aves serão de facto bem alimentadas e consequentemente
tenham a vitalidade e o bem-estar pretendidos, não tenham problemas de fertilidade e apresentem uma boa plumagem. Contudo
aconselho que forneçam sementes e papas ocasionalmente. A ave ficará feliz com a surpresa e estará apta a voltar a mudar de
alimentação se tal for necessário. Além disso, durante a criação, convém darem uma alimentação mais variada, pois isso estimula
os pais a alimentarem correctamente as crias.
Normalmente existem duas “variedades” de extrudido, uma com teor
de 15% de proteína e que é utilizada fora do período de criaçao e uma outra com um teor de 19% que se utiliza durante a criação.
O teor proteíco é suficiente, aliás é superior ao teor de algumas papas de criação. Contudo normalmente é aconselhável fornecer
também papa de criação durante este período, pois existem aves que se recusam a alimentar as crias senao colocarmos papa à
sua disposição. Podemos também adicionar sementes germinadas e outros suplementos proteicos a essa mesma papa, nas doses que
acharmos mais convenientes. Relativamente às "doses" de extras que serão mais
aconselháveis isso dependerá de um estudo mais exaustivo do tipo de alimentação que estamos de facto a dar às nossas aves,
da altura do ano, se estamos a atravessar o ciclo reprodutivo, a muda etc Poderá variar, ainda que em menor escala, de casal
para casal, pelo que o dosear das quantidades de proteina extra a administrar e as fases em que tal deve ser feito, dependerá
obviamente do sentido de observaçao e experiência de cada um, contudo à partida, fora do período da muda e reprodutivo, não
haverá necessidade de qualquer administração proteica. Aliás, podemos afirmar com segurança que os teores proteicos do extrudido,
são suficientes para garantir que os progenitores criem de forma satisfatória e que as suas crias cresçam saudáveis e bem
desenvolvidas, mas obviamente que existem sempre pequenas alterações que podemos fazer não só nos níveis de proteínas, extras,
a administrar, bem como vitaminas extra, que dependerão, como já disse, do sentido de observação e experiência do criador.
Existe também a hipótese de usar extrudido e sementes e tentar
aproveitar as vantagens de ambos e eliminar os inconvenientes.
Há extrudidos produzidos
essencialmente à base de alpista e maçã, pelo que não estamos a deixar de lhes fornecer os nutrientes, presentes nas tradicionais
"sementes", apenas o fazemos de uma outra forma diferente.
Incluindo também sementes na alimentação
das aves, elas ficarão contentes, pois adoram descascar e comer sementes, além disso quanto mais variada for a alimentação,
melhor, pois além de ser saudável, os pássaros não terão problemas, quer o seu futuro "dono" lhes forneça sementes ou extrudido.
Esta última razão parece-me importante pois não devemos pensar somente no bem-estar das nossas aves reprodutoras, mas também
no daquelas que provavelmente iremos vender ou oferecer e também por essa razão não será, de todo, aconselhável fornecer somente
extrudido.
Já agora, aproveito, também, para dizer algo acerca de fornecer verduras e frutas:
além de serem uma fonte de vitaminas e minerais, serão sempre uma agradável surpresa para as nossas aves, contudo é necessário
garantir que esses legumes sejam produzidos biologicamente (o que pode ser economicamente dispendioso), pois lavá-los não
retira todos os quimicos e "porcarias" que hoje em dia se utilizam para os produzir. Sendo assim, aconselho que tenham muito
cuidado no tipo de guloseimas que oferecem, mas não deixem de lhes fazer uma supresa de vez em quando, eles merecem!!
Para terminar, gostaria de referir que já fiz a experiência de usar extrudido exclusivamente
e também em simultâneo com sementes, hoje em dia uso como base alpista e tenho sempre um recipiente com extrudido, o qual
os pássaros consomem quando bem lhes apetece. Uso este sistema por uma série de vantagens e desvantagens que ponderei. Contudo
a escolha do tipo de alimentação que devem fornecer deverá ser uma opção do criador. Existem vários caminhos para Roma, e
será uma questão de escolherem aquele que melhor servirá os vossos interesses. No caso de terem dúvidas experimentem e cheguem
às vossas próprias conclusões, porque não existem receitas mágicas e mesmo que existam, convém que mantenhamos um espírito
de abertura e não achemos que tudo que é tradicional (caseiro) e usual é excelente, ou que ao inverso nos deixemos levar pelos
produtos que estão na moda. Devemos ouvir os mais velhos, terão certamente muito que nos ensinar, mas podemos sempre melhorar
esses ensinamentos, ou corrigi-los, no caso de não estarem correctos. Quero com isto dizer, que não existem verdades absolutas
e que não devemos seguir cegamente os conselhos de A ou de B, somente porque é o campeão da raça X ou porque tem uma média
de 12 canários por casal. Oiçam, leiam, aprendam muito, mas nunca deixem de pensar.
Verduras, frutas e ervas:
As verduras, além de serem muito apreciadas pelas aves, têm também vitaminas e
minerais, pelo que só teremos a ganhar se as fornecermos, desde que tenhamos a certeza que estão isentas de químicos, pois
ao contrário é preferível não as usar. Achar que a água lava tudo é utópico e muitos dos químicos presentes nos alimentos
não saem com a água, nem mesmo adicionando vinagre ou um anti-fungico qualquer; o seu uso é muito benéfico para evitar fungos
e bactérias, mas não para eliminar as muitas porcarias que hoje em dia se usam na agricultura. Por isso o meu conselho é que
so usem produtos que saibam estar isentos desse tipo de produtos químicos. De referir também que existem algumas ervas que
podemos fornecer, as quais podemos apanhar quando vamos passear, contudo nunca o devemos fazer próximo de estradas ou em áreas
de cultivo, pois podem estar com os tais “químicos” , além disso no caso de ser junto à estrada a própria poluição
provocada pelo transito é suficiente para que as ervas não estejam em condições. Contudo, se tiverem oportunidade para as
apanhar: morrião, dente de leão, ortigas( propriedasde vermífugas e vitaminaA) e beldroegas são algumas das que poderão fornecer.
Relativamente a verduras
e frutas, não devemos fornecer alface, pois é muito diurética e pode provocar diarreias, se usada com muita frequência, contudo
se a fornecerem ocasionalmente não terão problemas, eu pessoalmente não uso. Couve galega, bróculos, couve flor, cenoura,
maçã, pepino e melancia são os habitualmente fornecidos e aqueles que os canários aceitarão imediatamente, contudo não existem
grandes restrições e poderemos fornecer praticamente todas as frutas e vegetais, no inicio os canários podem não apreciar
muito, mas depressa se habituam.
De referir também
a importância de fornecer ALHO E CEBOLA, na papa ou de colocar mesmo uns dentes
de alho para eles depenicarem. O alho tem propriedades excelentes e já comprovadas sendo mesmo utilizado em suplementos para
consumo humano, tem propriedades antioxidantes, de vermífugo e protege contras problemas de coração entre outros benefícios.
Aproveito a deixa,
para falar no vinagre de cidra, que não sendo obviamente nem uma verdura nem uma
fruta, é de grande interesse. O seu uso na razão de aproximadamente 10ml, por 1.5 litros, uma vez por semana, é importante
na prevenção de problemas hepáticos e num bom funcionamento do aparelho digestivo.
Produtos “naturais” (que podemos
adicionar à papa, para a enriquecer):
Gérmen de trigo: Além de ser rico em minerais, é dos alimentos que possui maior quantidade de vitamina E, vitamina
da qual falo no tópico, “vitaminas”, mais à frente.
Farinha de soja: Muito rica em proteínas, com a vantagem de serem assimiláveis, isto porque muitos produtos possuem
proteínas, mas não importa só a percentagem de proteínas: um alimento poderá ter 50% de proteínas e somente ser digerível
e assimilável 20%, contudo no caso da soja as proteínas são assimiláveis praticamente na sua totalidade.
Levedura de cerveja: Muito rica em proteínas (possui todos os aminoácidos essenciais) e em vitaminas do complexo
B.
Espirogira:
Dextrose:
Suplementos vitamínicos e minerais, probióticos e prebióticos
Brevemente a actualizar
Água
Um outro factor de enorme importância é a água. É um meio de proliferação de grande
variedade de bactérias, protozoários, fungos etc. Ou seja senão fornecermos água limpa diariamente e não trocarmos os bebedouros
uma vez por semana, certamente iremos ter problemas, em maior ou menor grau. Outro factor a ter em consideração é o uso de
suplementos vitamínicos e minerais na água, por vezes temos que o fazer ou é vantajoso que assim seja, contudo há que ter
muito cuidado e não deixar, de maneira alguma, estar essa água mais que um dia, pois os suplementos degradam-se rapidamente
e servem de alimento para os “bichinhos” que por lá vagueiam, os quais se reproduzem exponencialmente, especialmente
no verão, com o aumento da temperatura. Outro factor que contribui para a degradação de algumas vitaminas, é a exposição solar,
por isso não é de todo conveniente que bebedouros com vitaminas estejam expostos à luz solar. Existem bebedouros que protegem
contra os raios ultra-violetas, essa será uma opção, embora a ideal seja evitar luz solar directa e apenas a fornecermos
quando acharmos conveniente.
Bruno Cardoso